A história de um atleta olímpico que tem como destaque uma trajetória construída por muitos desafios

A marca de um campeão olímpico traçada pelo destino
Tornar-se um atleta olímpico de alto rendimento é carregar dentro de si valores como: dedicação, confiança, espírito de equipe, competitividade e acima de tudo saber lidar com as vitórias conquistadas e as dores que as derrotas trazem ao longo de uma trajetória. E não apenas isso, mas também buscar a empatia com as pessoas e servir de inspiração para os mais jovens, sendo referência para as novas gerações que tem pela frente a missão de desbravar áreas do esporte que ainda são pouco conhecidas.
É desta forma que, Bruno da Silva Mendonça, 33 anos, começou a escrever com passar dos anos a sua história dentro do esporte. Nascido no bairro da Praça Seca, zona norte do Rio de Janeiro, Bruno, teve uma infância comum como todas as crianças. Era um menino ativo que gostava muito de brincar durante todo o dia com seu irmão gêmeo, Rafael Mendonça, e a principal atividade que ambos gostavam de praticar era corrida na vila onde residiam. “Nós éramos muito elétricos, muitos ativos e por conta dos nossos pais trabalharem o dia todo, nossa irmã tomava conta da gente e tínhamos a chance de brincar o dia inteiro na vila, que tinha um espaço muito grande para ficarmos apostando corrida”. Local no qual começaria a desenvolver suas habilidades que mais à frente seriam usadas dentro de modalidades esportivas.
Por ser um menino que gostava de brincar muito e ter uma energia que dificilmente se exauria, rapidamente passou a ter interesse pelo esporte, junto ao irmão que era seu parceiro e amigo, que o incentivava e o motivava sempre com disputas em atividades que eram sadias para o progresso de ambos. Na escola municipal Honduras foi o ambiente onde ambos desenvolveram de fato as suas primeiras aptidões para o esporte ao mostrarem sua desenvoltura em simples exercícios, o que rapidamente despertou a atenção de seus professores que passaram a observá-los. Ao promoverem uma competição de corrida de 100 metros na pista de atletismo, os irmãos tiveram a grata surpresa de passar por todas as etapas e se enfrentarem na final, sendo Bruno o vencedor da disputa, ganhando sua primeira medalha escolar. “Eu percebi ali que queria ser atleta. Na escola meus professores viam um grande potencial em mim e no meu irmão e sempre nos incentivavam a participarmos de campeonatos”.
Ao observar as habilidades que os filhos tinham para serem trabalhadas e o possível crescimento para modalidades desportivas, sua mãe, Barbara Silveira, decidiu inscrevê-los para ampliarem mais seus conhecimentos, na prática do futsal, no Country Clube da Praça Seca. “Na escola eles sempre participavam de todas as modalidades que eram abertas por gostarem muito de atividades esportivas. Eles eram crianças muito ativas e a oportunidade de colocá-los no clube era uma maneira de fazer com que eles gastassem essa energia e se desenvolverem esportivamente”.
Com uma rotina diária de atividades repleta de oportunidades passaram a realizar os treinos de futsal em outro local, junto com sua irmã, Danielle Mendonça, praticante de atletismo, na Gama Filho. Enquanto Danielle praticava atletismo, os irmãos faziam outra modalidade, no entanto, por terminarem antes as atividades tinham que aguardar sua irmã que ainda estava treinando na pista, o que começou ao despertar um novo interesse por algo que ainda não havia sido explorado. “Como eles terminavam mais cedo o futsal, eles sempre ficavam me esperando, mas em alguns momentos passavam correndo pela pista o que atrapalhava o andamento das atividades. Como eles sempre estavam ali, o técnico acabou incentivando-os ao chamar para participar das atividades. Esse por ser um esporte diferente atraiu a atenção deles e daí em diante eles passaram a treinar, o que acabou sendo importante para a futura prática do hóquei sobre a grama”.
Crescendo em um ambiente repleto de oportunidades esportivas, (Bruno) foi evoluindo como atleta e como pessoa, em meio a sua formação de estudante. Durante o colegial notou que poderia ter uma boa caminhada dentro da área, tendo em vista seu retrospecto favorável ao longo de sua trajetória. Passados alguns anos de sua formação no ensino básico (fundamental), ambos os irmãos foram transferidos para a escola Faetec, em Quintino, conhecida como República. Na República encontraram a chance de despontar como atletas e se destacarem de vez no cenário esportivo, aliados também ao bom ensino que a instituição disponibilizava.
O primeiro passo a ser dado foi tornar visível, junto com seu irmão, a facilidade em percorrer curtas distâncias em um período pequeno de tempo nas atividades físicas realizadas no horário de educação física, objetivo que rapidamente foi alcançado. Com a prática de futsal sendo realizada de maneira conjunta com os estudos, os dois demonstravam em simples atividades físicas de educação física que tinham potencial para despontar no futebol, algo que não foi visto apenas na escola, mas sim no clube que treinavam, o que gerou interesse de outras equipes de futebol durante os campeonatos disputados com convites para a participação dos dois atletas em outros times. "Nós nunca fomos jogadores técnicos, éramos velocistas e bons marcadores, e por mostrar um desempenho alto na idade que nós tínhamos, fomos convidados a participar da equipe do Olaria", afirmou Bruno.
Por não terem condições de serem acompanhados por seus pais durante as atividades tiveram que adiar o sonho de se transferirem para o Olaria, clube de maior expressão, que daria maior projeção. Seus pais entendiam que por não terem condições de bancar os custos e não poder acompanhá-los durante os treinos, acharam que essa não seria uma boa escolha. “Infelizmente eu não pude deixar eles treinarem no Bangu por ser muito distante e também por não poder estar com eles, por causa do meu trabalho. Esse foi um momento difícil, mas eles entenderam a minha decisão”, afirmou Barbara.
Mostrar para os seus colegas de classe e professores o bom desempenho físico que possuíam era apenas o início, pois para os dois conquistar novos objetivos no esporte era a verdadeira meta, mas para isso era necessário trabalhar mais a parte física e aprimorar ainda mais seus pontos fortes. Por serem apaixonados por esporte sempre se escreviam em toda e qualquer prática que estivesse disponível como: capoeira, vôlei, natação, futsal dentre outras práticas.
Com o passar dos anos começaram a ganhar reconhecimento pelo bom desempenho, sendo convidados para participar de campeonatos intercolegiais, ganhando prestígio pela maneira como agiam das pessoas que os acompanhavam, passando a ser conhecidos e tendo um fã-clube dos gêmeos. Mostrar boa desenvoltura lhes rendeu convites para jogar pelo time da escola em outros torneios, depois de vencer um confronto contra alunos veteranos com um time repleto de jovens dentro da escola. Chance que o técnico da equipe de futebol da instituição fez para os dois atuarem no time principal como lateral direito e seu irmão como lateral esquerdo. “Ali começou a se desenhar o que eu queria para mim. Queria ser atleta e tinha a velocidade ao meu favor”, destacou Bruno.
Sem deixar os estudos de lado se transferiram para a Faetec de Marechal, ambiente que passaria a se dedicar mais a parte do estudo de técnico de administração, sem deixar de lado o amor pelo esporte. Ao chegar próximo a idade considerada adulta na sociedade, 18 anos, seu foco começou a mudar e sua prioridade também, o que antes era um objetivo agora se tornaria um sonho a ser conquistado mais à frente. Sua nova meta, após a conclusão do ensino médio era se tornar militar e unir o esporte a um trabalho que desse estabilidade e pudesse prepará-lo para o mundo, dando a oportunidade de crescer e expandir seus horizontes.

Treinamento com paraquedas
“Desde pequeno eu sempre almejei o militarismo. Ali eu vi a oportunidade de crescer”
Ingressar nas fileiras das forças armadas é desejo de muitos e como boa parte dos jovens que querem entrar neste ambiente, Bruno Mendonça, não sendo diferente da maioria passou a se interessar em fazer parte das forças militares desde pequeno. “A paixão veio desde garoto ao observar tarefas sendo feitas por escoteiros como a entrada em forma, formaturas e acampamentos”. Incentivado pelo seu sogro, Paulo Roberto Bezerra, 62 anos, que era capitão da aeronáutica, e a participação em formaturas alusivas de parentes e amigos, o fizeram escolher essa profissão para a vida. Se tornar militar era seu objetivo e o primeiro passo foi dado quando completou 18 anos ao se alistar e posteriormente ser escolhido, após o processo seletivo para servir no ano de 2003 como recruta/conscrito, começando assim a primeira etapa para a carreira militar.
Fazer parte de um grupo de 273 recrutas foi o primeiro desafio a ser vencido na longa caminhada dentro Força Aérea Brasileira (FAB), jornada que contou com treinamentos que se iniciaram no Parque de Material da Aeronáutica (PAMA), com uma rotina diária de treinamentos físicos para se alcançar a excelência durante as missões a serem realizadas futuramente e também o aprendizado dos fundamentos necessários para as solenidades que todos os militares participam como: formaturas, trocas de comando, marchas alusivas a datas referentes ao âmbito militar, junto também com o desenvolvimento dos principais pilares que todo o militar carrega consigo, honra, garra, força e vibração, seguidos de muita disciplina e comprometimento.

Formatura Militar (Foto: arquivo pessoal)
Tornar-se paraquedista era o principal objetivo a ser alcançado dentro força, mas essa era uma meta que não seria conseguida tão facilmente, pois ao longo do processo de formação a realidade se tornou outra. Ao concluir o curso de formação de soldado foi designado para servir na Base Aérea do Afonsos (BAAF) e ali viu seu sonho ser adiado. No BAAF serviu na seção de controle interno, fazendo serviço administrativo, onde passou a adquirir experiência para atuar em outras frentes, conhecendo outras áreas que fariam parte do seu cotidiano mais adiante.
Depois do período obrigatório na FAB, Bruno, passou a fazer parte efetiva do quadro de militares da força e neste momento decidiu subir o seu primeiro degrau ao fazer sua primeira prova para soldado de classe especial (S1), mantendo vivo o sonho de conseguir se tornar paraquedista. Aprovado no concurso interno para a promoção, em 2004, decidiu ingressar no Batalhão de Infantaria da Aeronáutica dos Afonsos (BINFAE-AF), na categoria infantaria, estando assim mais próximo de atingir sua meta.
Iniciado o período de adaptação e treinamento em um novo ambiente passou a se dedicar na parte operacional com cursos táticos e com toda a parte física militar, participando de campeonatos em outros estados e se projetando como atleta dentro do quartel ao se destacar nas competições, ganhando medalhas e prêmios individuais. Como reconhecimento pelo bom desempenho apresentado foi convidado a participar da equipe de atletismo e dali em diante começar a treinar e disputar competições com atletas de alto nível.
Por atingir um bom nível em disputas de menor expressão foi convidado a vivenciar seu primeiro desafio ao lado de competidores de excelência na corrida Santos Drummond, em Santos, percurso que tinha uma distância de 10 quilômetros. “Fiquei muito apreensivo com essa competição. Busquei muitas maneiras de me preparar para este evento e me sair bem. Lembro-me que no dia, eu fiquei meio apreensivo em tomar café ou comer qualquer outra coisa e ficar com a barriga cheia. Meu nervosismo me fez segurar uma garrafa de gatorade por toda a corrida sem se sequer utilizar.”

Corrida Santos Drummond (Foto: arquivo pessoal)
Daquele momento em diante viu que aquele era o lugar onde se via com uma chance de crescer e a partir dali o quartel seria o caminho para sua vida. Entendendo que seu desempenho em corridas longas não era seu forte, pediu para seu treinador dar uma chance em percursos mais curtos nas corridas de 100 e 200 metros, algo que seu técnico atendeu e, logo após, passou a disputar a primeira competição na modalidade que conseguiria concorrer com mais igualdade, tendo seu primeiro teste oficial na bateria classificatória para o brasileiro das forças armadas no estádio Célio de Barros (Maracanã), o que não foi alcançado por ter terminado a prova em quarto lugar.
Passados quase 4 anos de caserna militar (no quartel), Bruno passou a se dedicar nas provas de promoção a cabo para dar continuidade a carreira e se viu pressionado, após não ter logrado êxito em exames anteriores. Contudo, em sua última tentativa encontrou a oportunidade de realizar um curso técnico e alcançar algo maior; a chance de se tornar sargento. “Foi um banho de água fria não ter passado na prova de 2006. Em 2007 e 2008 não teve prova para cabo infantaria, durante esse tempo vi que para me tornar sargento e seguir a carreira era necessário um curso técnico.”
Buscando uma maneira de ter estabilidade e continuar sua caminhada, optou por se especializar na área de taifeiro, fazendo o curso no Senac e logo após, o curso de barmen, aprimorando suas habilidades para os setores que poderia trabalhar como: a produção de eventos, recepção de autoridades, formaturas ou mesmo cuidando da alimentação geral dentro do rancho (refeitório). Depois de se preparar para seu último concurso antes do término do tempo de serviço teve a grata surpresa de ser aprovado e classificar-se dentro das 21 vagas disponíveis, em 2008, sendo o 17° da lista dos convocados, estando pronto para dar mais um passo na sua jornada e vivenciando uma nova etapa.
Ao longo do ano de 2008 realizou o curso de taifeiro dentro do quartel e em seguida fez a prova interna que o qualificaria para o posto de 3° sargento taifeiro da Força Aérea Brasileira. “Um alívio para mim e minha família. A satisfação de saber que eu teria pelo menos mais 25 anos de força aérea e que a partir dali eu já teria uma estabilidade. Aquilo ali seria o ponta pé inicial para que o mundo se abrisse dentro da força.”
Passada a fase de luta e aprovação, escolheu ampliar seus conhecimentos e se preparar para a área que tinha uma forte ligação e desejava atuar, dando início ao curso superior de Educação Física na Universidade Augusto Motta (UNISUAM). Logo após, começou uma nova etapa na FAB ao ser selecionado para trabalhar no Centro de Instrução Especializado da Aeronáutica (CIEAR), em 2009, organização que tinha por finalidade capacitar militares e civis para desempenhar cargos e funções específicas dentro da força, por meio de cursos e estágios. Realizava tarefas ligadas a produção de cardápios semanais para o efetivo da unidade, coquetéis para a recepção dos alunos que eram selecionados para os cursos ao longo do ano e no atendimento direto a autoridades em cerimonias.
Com a conclusão do curso superior em Educação Física, Bruno buscou junto ao comandante a primeira oportunidade de trabalhar diretamente com o esporte e colocar em prática todos os conhecimentos ao longo de sua preparação, algo que foi aceito por todos na unidade que tinham o desejo de ter um treinamento militar adequado para futuras atividades que fossem solicitadas. “Começamos com um projeto de formiguinha. O trabalho começou a evoluir quando as pessoas começaram a observar mais as atividades que eram feitas e a maneira como elas eram realizadas.”
Por seis anos desempenhou as funções de preparador físico no CIEAR ao trabalhar diretamente com o efetivo da unidade na parte de condicionamento físico, nos circuitos de Teste de Avaliação de Condicionamento Físico (TACF), que é realizado a cada semestre para avaliar a condição física dos militares e também atuando na preparação de equipes esportivas do Centro Desportivo da Aeronáutica (CDA), junto a competições de atletismo em que também participava.

Treinamento Militar (Foto: Lucas Candido)
Realizar funções ligadas diretamente ao setor esportivo, o fez ver e vivenciar experiências que a cada dia o faziam querer migrar para uma unidade que trabalhasse com atletas e um local que desse visibilidade para se agarrar de vez a vida de atleta. E foi em uma apresentação, em Brasília, representando o time Brasil que a oportunidade de se transferir para a CDA surgiu, com a presença do futuro presidente da CDA no evento. “Perguntei se poderia fazer parte da CDA algum dia e ele (presidente) me disse que sim, porque eu era um atleta de alto rendimento, além de ser militar da ativa e de carreira, que é o mais importante. Depois dessa conversa eu corri atrás de todos os documentos necessários para habilitar minha transferência para a unidade.”
Ao se transferir para CDA, em 2016, com a ajuda do vice-presidente da CDA, coronel Gualhardo, junto ao aval do presidente da instituição, Bruno, deu um grande passo ao estar mais próximo de conquistar todas as suas metas, unindo o esporte à profissão e poder desempenhar as funções que tanto almejava para sua vida.
“Foi amor a primeira tacada. Eu vi que isso era algo diferente e que eu poderia ter sucesso nesse esporte”
Treino de Hóquei (Foto: Lucas Candido)
Viver do esporte era algo que já fazia parte do seu DNA desde pequeno. Com uma história construída com uma base sólida dentro diversas atividades esportivas, Bruno sempre tentou unir o seu amor pelas práticas desportivas ao seu futuro como militar. Ao longo de sua trajetória teve a oportunidade exercer vários papéis em modalidades que foram o modelando para o que viria mais a frente, esportes como: futebol, natação, vôlei, tênis de mesa, handebol, atletismo, pentatlo e esgrima, são alguns das atividades que foram trabalhas até que fosse descoberta sua verdadeira paixão; o hóquei sobre grama.
Antes de alcançar sua estabilidade descobriu uma modalidade pouco conhecida sendo realizada ao lado do evento de encerramento anual do quartel em que participava, no clube militar em Deodoro. A forma como era feita a atividade em uma grama sintética com tacos grandes, junto com a maneira que era realizada a atividade chamaram sua atenção, despertando o desejo de também participar. “Eu vi duas equipes trabalhando perto de onde eu estava, uma masculina e outra feminina, aquilo chamou minha atenção. Quando me aproximei vi que tinha algo diferente, os atletas tinham tacos e corriam atrás de uma bola pequena. Ao perguntar descobri que ambas as esquipes eram da seleção brasileira.”
Com o interesse em saber mais sobre o que seus olhos viam, mas ainda não entendiam complemente se deparou com a presença de uma pessoa e ao perguntar mais sobre o que estava sendo feito ali descobriu que conversava com o gerente geral da confederação brasileira de hóquei sobre grama, Eduardo Leonardo, que ao observar o interesse e porte físico lhe perguntou se não haveria algum desejo em conhecer a modalidade, fazendo um teste em um clube para entender mais e talvez se tornar um profissional. Convite que rapidamente foi aceito.
Com mais um teste a ser vencido, agora em algo totalmente novo, passou por uma nova etapa de desafios que eram vencidos a cada dia com uma série de treinamentos voltados para a prática. E foi em um dia comum de atividades que a chance de mostrar o seu valor apareceu. Com o treino da seleção brasileira sendo realizado no mesmo campo, mas em lados oposto, Bruno e seu irmão Rafael treinavam também até que algo inesperado aconteceu, após o erro de domínio do lançamento feito por seu irmão, Bruno disparou para buscar a bola para não atrapalhar os exercícios de finalização que eram realizados. Entretanto, o que era para não chamar a atenção dos outros companheiros acabou se tornando o contrário. “Eu corri muito rápido para não atrapalhar a outra equipe e no final todos estavam me observando. Eles perceberam que eu tinha uma velocidade absurda e eu acabei virando atenção do treino.”
Com o encerramento dos exercícios programados para o dia o técnico da seleção abordou os irmãos para saber o que faziam, se tinham interesse na modalidade e o queriam alcançar no esporte ao ver que ambos tinham capacidade de fazer parte em algum momento da seleção. A partir dali começaria a sua trajetória no hóquei que teria início no Deodoro Hóquei Clube, em 2009, com a perspectiva de se tornar um campeão em um esporte que ainda possuía pouca visibilidade em pouco tempo. Ganhar o conhecimento das habilidades necessárias para se desenvolver melhor foi o primeiro passo a ser conquistado nos treinos com uma série de atividades intensivas que foram exercitadas ao longo de dois anos, junto com disputas em campeonatos regionais, que no final renderam a primeira convocação para a seleção brasileira, no ano 2011, para participar dos play-offs, contra a equipe de Cuba, que serviria para a classificação dos jogos Pan-Americanos em Guadalajara.

Panamericano Guadalajara (Foto: arquivo pessoal)
Fato que não aconteceu devido a derrota da seleção que serviu não apenas de alerta, mas também como um sinal de que aquele ambiente era o que o fazia bem e que não gostaria de se afastar mais. Pensando em ganhar mais visibilidade e se manter no radar da seleção se transferiu para uma equipe de maior porte, o Carioca Hóquei Clube, buscando mais oportunidade de mostrar seu valor dentro de campo e ter ao lado uma equipe mais competitiva com atletas de maior expressão no esporte. Com a mudança teve que começar a buscar seu espaço dentro de um time repleto de bons jogadores e mesmo não sendo um jogador titular conseguiu ao fim do campeonato sagrar-se campeão em sua primeira temporada.
Com o bom o andamento no clube e com destaque pela conquista de títulos, a seleção era uma realidade a ser conquistada mais uma vez. No entanto isso não aconteceu, após fazer parte da lista de 25 convocados para treinar para os play-offs que dariam vaga para 18 atletas no pré-olímpico que seria disputado no Japão, Bruno passou junto a todos os seus companheiros por uma base de treinamentos pesados que serviam de eliminação durante três meses para a seleção dos melhores e mais preparados para representar o país em uma das competições mais importantes. Com a lista final liberada informando quem estava apto pela comissão viu sua primeira derrota pessoal como atleta ao não encontrar seu nome nela. “Para mim o mundo acabou. O hóquei fechou as portas para mim e tinha acabado. Fiquei muito triste, mas fiz um juramento que daquele dia em diante eu treinaria muito forte e nunca mais seria cortado de novo”.
Seguir em frente e superar sua primeira derrota como atleta, após o insucesso na seleção não foi algo fácil, mas sua promessa de jamais ser cortado de novo era uma meta que de maneira nenhuma seria esquecida. Treinar mais forte em seu clube para se destacar como principal jogador no próximo campeonato brasileiro era seu grande foco para alcançar o sucesso e voltar à seleção. Objetivo que com muito suor e determinação foi alcançado, logo em seguida com a conquista de mais um troféu do campeonato que tanto se dedicou e que ao final rendeu bons frutos, conquistando o respeito de todos da equipe por tudo que mostrava em campo ao lado de seus colegas e adversários nas partidas. Recebendo em seguida a facha de capitão por ser um exemplo de perseverança para todos os jogadores e por ser um bom atleta.
Vencer mais um brasileiro era uma meta, mas não o seu grande desafio. Continuar em destaque para todos que o viam jogar e ganhar premiações individuais foi uma maneira de mostrar seu potencial para aqueles que o acompanhavam e para os que ainda tinham alguma dúvida que seus objetivos estavam próximos de serem realizados. No seu terceiro ano consecutivo na equipe do Carioca atingiu algo que poucos conseguiram ao sagrar-se pela terceira vez consecutiva campeão do campeonato brasileiro, em 2014, como capitão.

Foto: arquivo pessoal
Fruto desse sucesso foi o retorno a seleção, agora também como capitão por tudo aquilo que representa e pelo respeito conquistado por todos atletas, o que mais a frente lhe rendeu também em uma eleição feita, após a disputa de campeonatos o prêmio de melhor atleta pelo comitê olímpico. “Ter a braçadeira da seleção não é posto, mas sim uma grande responsabilidade de representar todo o corpo de atletas.”
Conquistar vários prêmios era algo que Bruno já vinha se preparando há anos para ter, mas faltava algo que ainda não tinha sido obtido e que estava próximo de ter a chance de disputar pela primeira vez, as Olimpíadas no Rio de Janeiro, em 2016. Ambição que focava não somente por não ter tido a chance de participar antes, mas também o fato de ter todos os seus familiares próximos, dando apoio durante as partidas e sendo seus pilares em todos os momentos.
Com a mente totalmente direcionada para esse objetivo, agora seria o momento de fazer sua promessa feita em seu último corte valer a pena e se doar completamente para alcançar aquilo que tanto sonhou em sua vida e que ainda não tinha realizado. Diferentemente de anos atrás quando tinha sido convocado para compor a equipe e talvez ser escolhido para fazer parte do grupo, Bruno chegou com uma bagagem bem maior para a disputa de um lugar no grupo e agora carregava consigo a faixa de capitão, junto com objetivo de jamais fracassar de novo e ser cortado da seleção. Passado o mesmo período de testes e preparação para o grande evento a ser realizado em sua cidade natal, foi revelado na lista de escolhidos que sua vez de disputar sua primeira olimpíada tinha chegado. “Ser um atleta olímpico sempre foi um sonho para mim. Poder representar a seleção no meu próprio país seria algo incrível. Eu vinha me preparando há anos para estar nesse ambiente.”
Ser militar e atleta da seleção renderam bons frutos que ao longo dos anos foram colhidos e agora poderiam ser postos em prática. Após a aprovação era chegada a hora de intensificar mais ainda os treinamentos para que fosse possível chegar no ápice da sua forma física e técnica, o que demandou cuidados necessários para uma alimentação correta com um tempo de descanso necessário para suprir o cansaço e também o apoio da sua família para a conquista daquilo que mais lutou.

Treinamento para as olimpíadas (Foto: arquivo pessoal)
Passada a fase de organização para os jogos, agora era o momento de curtir a participação no evento tão aguardado e continuar concentrado na busca de atingir seu patamar máximo no evento acompanhado pelo mundo todo e também por todos os seus amigos e familiares que todos os dias davam força e desejavam sucesso nesta nova jornada.
Em meio a toda a preparação para o evento tão esperado em sua vida, teve a grata surpresa de saber que sua mãe, Barbara Silveira, tinha sido convidada pela Prefeitura do Rio de Janeiro para trabalhar na vila dos atletas como técnica em saúde bucal, tendo a chance de participar do mesmo ambiente no qual seu filho também fazia parte e viver também bem de perto a realização do sonho que tanto era almejado. "Estar próximo do meu filho em um local repleto de atletas foi um sonho para mim. Fiquei muito orgulhosa dele ter conseguido alcançar o que tanto queria. A primeira vez que eu o vi andando na vila dos atletas eu fiquei parada e sem palavras para poder expressar o sentimento que senti naquele momento", declarou Barbara.
Com o apoio de seus companheiros e familiares durante todo o período das olimpíadas disputou os jogos dando sempre seu máximo em um grupo de extrema dificuldade, que contava com times europeus que tinham tradição na competição, mas infelizmente a seleção não conseguiu alcançar uma marca expressiva contra os adversários, terminando na última colocação do seu grupo que tinha Bélgica, Grã Bretanha, Nova Zelândia, Espanha e Austrália.
Com a saída precoce dos jogos veio o momento de começar a refletir e entender o que faltava para que a seleção conseguisse alçar voos mais altos contra as equipes que mostraram desempenho acima do esperado. "Tivemos um crescimento bem positivo em relação a equipes de anos anteriores. Lutamos e nos dedicamos até o fim. Para que tenhamos a chance de disputar com essas grandes equipes no mesmo nível seria necessário um maior investimento do governo na modalidade que ainda é pouco conhecida e uma maneira de dar mais visibilidade há algo que poucos conhecem", afirmou Bruno.
“Servir de inspiração para a nova geração de atletas é um dos meus objetivos"

Foto: Lucas Candido
Realizar todos os seus sonhos sempre foi sua primeira e única meta de vida. Agora com quase todos conquistados, ainda faltava um objetivo que não esqueceu e nem mesmo deixou de lado, que carrega dentro de si todos os dias como uma ambição: tornar-se paraquedista da Força Aérea. Desejo que o faz refletir todos os dias em toda a trajetória feita até aqui, revelando que sua luta ao longo de todos esses anos foi bem-sucedida. "Ser paraquedista era o meu sonho quando eu entrei na Força Aérea e eu ainda carrego comigo a vontade de um dia usar o coturno marrom", revela Bruno.
Traçar uma meta e conquistar os objetivos sempre foi o desejo de muitos atletas, algo que Bruno Mendonça conseguiu com bastante luta e acima de tudo muita perseverança ao longo de muitos anos. No entanto, toda trajetória tem um ciclo que tem começo, meio e fim. Pensar no término de sua carreira de atleta olímpico ainda não está sendo seu foco, contudo ajudar as novas gerações a traçarem o mesmo caminho de vitórias vem se tornando algo que constantemente tem passado pela sua cabeça a ponto de pensar que hoje estar dentro de campo não basta, mas sim perto e ajudando todos aqueles que como ele tenham o interesse em começar sua trajetória dentro do esporte de maneira digna e que carreguem dentro de si o desejo de um dia conquistarem o que poucos como Bruno conseguiram. “Eu me vejo daqui há alguns anos, quando eu sentir que não posso mais ajudar meus companheiros em campo, trabalhando como técnico de alguma equipe que eu posso ajudar, fomentando mais o esporte no país que ainda é pouco conhecido e também o pleno desenvolvimento do esporte.
Pensando numa maneira de auxiliar a prática e estimular novas joias nos anos seguintes, decidiu dar um grande passo ao levar o esporte para dentro do seu próprio bairro, Nilópolis. Ao apresentar a modalidade para crianças de algumas escolas com a utilização de materiais e aulas expositivas para despertar o interesse de jovens e adolescente que queiram conhecer mais sobre a modalidade esportiva e que queiram fazer parte do quadro de atletas das equipes que sempre precisam de novas revelações e jogadores. “O Bruno já faz esse tipo de projeto há alguns anos e ele tem a vontade de expandir mais isso, se possível por todo o Rio de Janeiro. Ele é uma pessoa que gosta muito do esporte e se depender dele vai continuar lutando sempre para que a modalidade ganhe cada vez mais visibilidade e atraia mais pessoas", afirma Barbara.

Foto: arquivo pessoal
Obter êxito em tudo que busca para sua vida sempre foi um ponto positivo em toda a sua trajetória, no entanto, algo ainda faltava para que todas as suas metas traçadas até hoje fossem concluídas, era se tornar paraquedista. Por muito tempo carregou este sonho que muito antes de entrar na Força já desejava e após uma longa jornada dentro do esporte como atleta, e agora com o início de vários novos projetos pela frente, direciona seu foco para ser paraquedista da Força Aérea Brasileira. Depois de longos anos de completa dedicação ao esporte estar próximo da sua família e filhos que são o seu bem mais precioso, tornou-se uma das suas maiores conquistas.




















Autor: Lucas Candido Silva Alves
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC2)
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